Por Glauber Cardoso Carvalho
“E a bandeira
estrelada em triunfo tremulará
Sobre a terra dos livres e o lar dos valentes!”
Sobre a terra dos livres e o lar dos valentes!”
Hino Nacional
dos
Estados Unidos da América
Estados Unidos da América
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Propício o dia para um
post sobre liberdade e autonomia, afinal em 4 de julho de 1776 a Declaração de
Independência dos Estados Unidos da América (as treze colônias de então) era
apresentada ao mundo e separava os povos oprimidos do Norte da América da
tirania do despótico governo inglês. Sim. Assim os congressistas americanos
apresentaram as justificativas para sua liberdade de ação, o que significava
assumir “toda a competência para declarar guerra, assinar a paz, contrair
alianças, estabelecer relações comerciais e levar a cabo quaisquer decisões ou
ações, tal como compete aos Estados Independentes” (Declaração, 1776). Começava
a ser forjado o espírito livre e valente, além de pavimentadas as condições
jurídico-legais do povo que assumiria o lugar da antiga metrópole em termos de
poder.
A Guerra Civil que tomou
lugar quase cem anos depois conseguiu, conforme nos ensinou Aloisio Teixeira
(1999, p.158), “definir a questão interna do poder e a natureza do capitalismo
americano, que permitiu ao país emergir, ao final do século XIX, como a maior
potência industrial do globo”. Daí, seguiu-se a I Guerra Mundial que o colocou
como centro cíclico principal, ao impossibilitar a Inglaterra de recuperar sua
hegemonia, e a II Guerra quando “se criam as condições, internas e externas,
para que os Estados Unidos tornem-se polo hegemônico da economia capitalista
mundial, estabelecendo uma nova ordem econômica no planeta”.
A nova onda do novo
imperador, benigno e estabilizador em seu discurso, despótico e
intervencionista para suas “colônias”, logrou contudo permanecer e influenciar
a vida de todos de tal forma que não parece que ainda estamos sob seu desígnio
imperial, sob as movimentações de suas frotas militares, ou que pedimos sua
ajuda com problemas nacionais (o Iraque vale um post...). Não se questiona
definitivamente (apesar das diversas movimentações em torno do tema), o uso do dólar
nas negociações internacionais, este lastreado hoje em dia apenas por Deus, já
que “In God we Trust”... e tantos outros contra-exemplos que podemos sugerir.
Destaco duas questões
para reflexão, que obviamente não cabem nas linhas deste post. Primeiro que o
poderio norte-americano está no cerne das preocupações iniciais da disciplina
Economia Política Internacional, tal como concebida ainda na década de 1970.
Claro, também, que ele não deixou de assombrar especialistas das Relações Internacionais,
cuja evolução teórica e de projetos de pesquisa, se bem dividem
quantitativamente e qualitativamente com a Europa, são os principais difusores neste
campo. A segunda é que ficou claro que o exercício da sua hegemonia (aqui usada
apenas como superioridade) e sua influência continental têm relação direta com
as opções e estratégias de desenvolvimento que os povos livres (ao menos para a
ONU) do Sul do mundo, tão independentes e capazes como os EUA, adotaram em seus
projetos nacionais. Segue-se que a imponente presença dos EUA como vizinhos do
Norte teve direta influência nos caminhos que tomaram as relações
internacionais da América do Sul e Latina.
Depois da virada para o
XXI, a retomada de projetos voltados para o desenvolvimento conjunto das
sociedades sul-americanas fez voltar a atenção ao interesse nacional construído
internamente e à promoção de uma inserção internacional autônoma. Assim, o
grande foco das políticas externas de cunho autonomista tem sido como atuar e
modificar a atual estrutura internacional mantida “desde cima”. A inserção
internacional conjunta tende a estimular as fórmulas regionais que buscam resguardar
as independências econômicas e assegurar as vantagens competitivas. Os países
da região, entretanto, não conseguiram superar o lugar de exportador de
matérias-primas e a reduzida capacidade estatal de promover um desenvolvimento
inclusivo. Incentivados pelo aumento nos preços das commodities na primeira
década do novo século, não conseguiram formar um sistema integrado e
competitivo de Estados nacionais. A despeito disso, esse crescimento foi
acompanhado de um processo de revisão do desenvolvimento regional por meio da
subida democrática ao poder de mandatários cujos programas de governo se
baseavam na melhoria geral de suas sociedades, tendo como um dos instrumentos
para tal fim, a realização de uma política externa condizente e altiva.
Essa mudança de rumo
destacou que existe uma velha geografia do poder baseada na estrutura delineada
pelo menos desde meados do século passado e que foi fortalecida com as
sucessivas crises que abalaram a periferia do sistema. Mostrou também que a
essa realidade se contrapunha uma nova geografia, que envolve necessariamente
mudanças na estrutura de poder global e que, por isso, também envolve crises
financeiras, guerras localizadas, ascensão de novos atores de outras regiões
como a China e uma crise de blocos regionais, assim como, a formação de novas
organizações.
Pra que exatamente nos
serve pensar nisso agora? Serve para lançarmos um olhar “desde baixo”, para
reivindicarmos a qualidade de nossa análise regional, para assumirmos nossas
pesquisas e alcançarmos nossa teoria, validando nossas hipóteses a partir de
nossas verdades. Sim, muitos possessivos. Há diferentes verdades e a história
nos ensina que quem a conta é quem vence. Temos que escrever nossa história...
certo, que seja, reescrevê-la. Promover uma internacionalização que sirva para nos
conhecermos e fortalecermos o pensamento integracionista crítico latino-americano.
Com a clareza de que as discussões também não devem estar fechadas sempre em
nós mesmos, mas incorporar a necessidade de unir agendas com as experiências de
todo o Sul, um aprofundamento do conhecimento do Sul de uma forma global.
Passou da hora de uma declaração
de independência final, para “levar a cabo quaisquer decisões ou ações, tal
como compete aos Estados Independentes”. Se eles já ressignificaram o 11 de
setembro apagando a lembrança da morte de Allende, quem sabe não tiramos o 4 de
julho deles. Liberdade e autonomia... esses temas vão voltar...
P.S.: O Brasil acaba de ganhar da Colômbia nas Quartas de Final da Copa do Brasil!
Referências:
- EUA. Declaração de Independência. 4 de julho de 1776.
- TEIXEIRA,
Aloísio. Estados Unidos: a “curta marcha” para a hegemonia. In: FIORI, José Luís (Org.). Estados
e Moedas no Desenvolvimento das Nações. Petrópolis: Vozes, 1999.
- EUA. Declaração de Independência. 4 de julho de 1776.
Excelente exposição. Isso é EPI !!!!!
ResponderExcluirObrigado Larissa! Esperamos você na próxima semana!
ExcluirEeeee finalmente consegui parar para responder!!! \o/ (na real, ja tinha feito isso, mas não sei o que aconteceu que meu comentário sumiu, daí já viu, né... rsrs) e olha que esse post é do tempo em que ainda comemorávamos vitórias da seleção!!! pense num atraso!!!! kkkkkkkk
ResponderExcluirGostei muito do texto, Glauber!!! A abordagem me lembra muito o pessoal do grupo de estudos modernidade/colonialidade, conheces?? Do giro decolonial... é bem interessante mesmo!
Se não me engano é nesse livro (El giro decolonial) que eles tocam na questão (de fato, acho que só é citado, mas é uma coisa que ficou na minha cabeça e sempre volta quando leio alguma coisa sobre o tema) dos limites entre o que é nosso (em itálico, rs) e o que não é. No sentido de que, depois de tantos séculos de colonização direta e indireta, a gente já absorveu tanto que quando se pensa em romper os laços, não é nem uma questão de total oposição ao que veio de fora (afinal a oposição ainda é uma manutenção da relação).
Daí a ideia de construção de uma lógica outra (novamente, a falta que faz o itálico nesses comentários rsrs) que valorize o que a gente tinha antes e que possibilite melhorar o que temos hoje.
E pense num desafio, porque cada caso é tão particular que não existe e nem deve existir uma fórmula pronta....
Enfim.... dá muito o que pensar!!! rsrs